Realizado mais uma vez de forma virtual, aconteceu na manhã desta quinta-feira, 18/5, o “II Webinar “SÃO LUÍS ÚNICA: As peculiaridades do Complexo Portuário da maranhense”. O evento, patrocinado pela Emap, faz parte da parceria Soamar – Sociedade Amigos da Maranha do Estado do Maranhão com o Syngamar – Sindicato das Agências de Navegação Marítima do Estado do Maranhão. Ambos representados durante as apresentações pelos seus respectivos presidentes: Sílvio Aguiar e Lídia Pflueger.
Tendo a coordenação da advogada e especialista em direito portuário, Anita Machado (foto ao lado), o Webinário – que durou duas horas – foi dividida em duas mesas/palestras especificas. A primeira, do gerente da Associação de Praticagem do Maranhão, Carlos Eduardo Brandão de Albuquerque Alves, com a moderação de Carlos Lima, do Syngamar. A segunda palestra coube a Marcos Tadashi Hamaoca, especialista marítimo portuário da Vale e ex-Capitão dos Portos do Maranhão. Desta vez, a moderação ficou a cargo do professor Márcio Vaz dos Santos, da Soamar.
Na primeira palestra, “Praticagem na ZP4 e suas peculiaridades no Complexo Portuário do Maranhão”, o Comandante Albuquerque mostrou um pouco da história da Praticagem no Maranhão e sua importância fundamental na atividade portuária, seja ela no nosso Estado, no Brasil ou no mundo. “A Praticagem do Maranhão é hoje uma das mais bem aparelhadas e mais seguras do Brasil, uma vez que tais conceitos fazem parte do perfil da nossa empresa. A importância do Serviço de Praticagem em todo o mundo está no gerenciamento dos riscos inerentes à navegação em águas profundas”, afirmou.
Criada em 22 de setembro de 1852, a Praticagem na ZP4 se orgulha dos 100 anos em operação. Hoje, a Zona de Praticagem do Maranhão tem 34 práticos, sendo 31 deles filiado a Associação Maranhense de Praticagem. Dos filiados, 14 são oficiais da Marinha do Brasil, 12 oficiais da Marinha Mercante e 8 de outras origens. A APEM tem ainda 80 funcionários, sendo 80% bilíngues e 95% possuem curso superior. O Comandante Albuquerque também fez questão de destacar as ações sociais levadas a efeito pela APEM, como a distribuição mensal de 400 cestas básicas, apoio a asilos, e hospitais, manutenção de uma creche para 100 crianças, e incentivos a Casa de Hanseníase localizada no bairro do Bomfim.
No setor de segurança, é da responsabilidade do prático – e da Praticagem – evitar os acidentes da navegação e, ou evita-los quando não for possível. Neste caso, minimizar os danos e as suas consequências faz parte da missão de qualquer piloto. “A Praticagem lida com o equilíbrio entre segurança do tráfego aquaviário e a produtividade do porto”, enfatizou o gerente da Associação de Práticos do Maranhão. Pelo gráfico mostrado durante a palestra o Brasil tem hoje 20 Zonas de Praticagem distribuídas em 17 estados da Federação. O Maranhão está na chamada ZP4, que compreende os terminais privados da Alumar e Vale e o porto público do Itaqui. A média de manobras/ano da ZP4 passa de 5 mil. O serviço de Praticagem é obrigatório por lei em todas as ZP, e cabe a DPC – Diretoria de Portos e Costas, determinar quantos práticos devem fazer parte de cada uma. Na distribuição por região, o Norte tem 241 práticos; Nordeste, 124; Sudeste 161 e o Sul tem 104.
As condições inerentes aos práticos são bem específicas. Conhecimento das características do local ou região onde atuam, tipo profundidade, correntes, ventos, obstáculos, tráfego local e regras de navegação. Também precisam dominar e ter conhecimento das complexidades de manobras, recursos e desafios sobretudo, quando se trata dos efeitos causados pelos agravantes de pouca profundidade, por exemplo.
Graças ao constante investimentos a Praticagem no Brasil tem um baixo índice de acidentes, considerado padrão de primeiro mundo. Para isso, são muitos os recursos investidos na formação continuada e em cursos de aprimoramento técnicos. Os profissionais de Praticagem também participam de encontros nacionais e internacionais sendo obrigatório a atualização profissional e habilitações em padrões de excelência.
A BAIA DE SÃO MARCOS – A baia de São Marcos é um estuário de quase 100km de extensão. Só o canal de acesso tem 55 milhas náuticas. Sua variação média de maré é de 7 metros e apresenta uma mudanças de correntes únicas no país, algo próximo de 8 nós. Com ventos de até 48 nós, ela tem uma janela de manobras que obedecem uma tabela de 2h30m antes da preamar até a preamar. E 0h30m antes da baixamar até 1h30m após a baixamar.
O complexo portuário do Maranhão é formado atualmente por 16 berços distribuídos entre os 3 principais portos.
Porto do Itaqui: porto organizado até 19 metros de calado, sendo 9 berços. O 99 até o 108;
Terminal Portuário de Ponta da Madeira: Terminal de uso privado com até 24 metros de calado, sendo 5 berços. P1, P3S, P3N, P4S e P4N.
Terminal da Alumar: Terminal de uso privado com calado de até 11,58 metros, operando com os berços 1 e 2.
Ao destacar as perspectivas futuras para o complexo portuário do Maranhão, o Comandante Albuquerque elencou os seguintes itens:
- Previsão de construção de 14 berços físicos e operação de berços virtuais (STS e operação em boias);
- Previsão de duplicação dos berços, do movimento e da carga (que deve mais que dobrar) em poucos anos;
- Operação do Terminal de Alcântara com navios Cape Size para grãos, se constituindo um novo paradigma para o país;
- As áreas portuárias de São Luís vão precisar se reinventarem, assim como todo pessoal envolvido nestes novos tempos onde os desafios serão cada vez mais relevantes;
- Perspectivas excelentes para São Luís, para o Maranhão e para todos que labutam no porto.
E para concluir uma frase de efeito que representa bem as atipicidades desta profissão “de gerir riscos”. “Quem impõe restrições operacionais não é a autoridade marítima ou a Praticagem e sim a natureza e as leis da física”.
O segundo momento do Webinar, prosseguiu com o tema “Terminal de uso privado e os desafios no complexo portuário de São Luís”. O Ex-comandante Tadashi, hoje Especialista Marítimo da Mineradora Vale, mostrou em números, a grandiosidade que é o sistema de porto da Vale, uma das pontas do Sistema Carajás, formando pelo tripé porto, mina e ferrovia.
Os terminais da Vale movimentam hoje 15% de toda movimentação portuária brasileira. São 1.827 hectares de área. Cinco berços de atracação, 8 carregadores de navios, 18 máquinas de pátio, 128km de esteiras e 8 viradores de vagões. Esse conjunto de equipamento, permite a mineradora uma capacidade operacional da ordem de 230 milhões de toneladas/ano. Com tal performance, a Antaq classificou o sistema com “a maior movimentação portuária do Brasil desde o ano de 2014. A empresa também é responsável pela dragagem das 55 milhas do canal de acesso, algo em torno de 200 mil metros cúbicos por ano.
O pátio de minério é abastecido pela ferrovia de Carajás. “São 8 viradores de vagão, cada um deles com capacidade para descarregar 8 mil toneladas por hora. Os vagões são virados em pares, em um sistema 100% controlado remotamente. Cada vagão carrega, em média, 105 toneladas”, explica Marcos Tadashi, que continua: “O sistema de empilhamento de minério da Vale é realizado por 4 empilhadeiras com capacidade de 16 mil t/h. Tem ainda uma empilhadeira com capacidade de 8 mil t/h, além de 4 empilhadeiras/recuperadora de 8.000t/h de capacidade”.
Todo o minério da Vale, no Maranhão, se encontra na área de estocagem distribuído em 17 pátios. Juntos, possuem uma capacidade estática de armazenamento de 5,7 milhões/t de minério de ferro. Em Ponta da Madeira são estocados minério de ferro e manganês, sendo o sínter feed o principal produto em estoque. A etapa seguinte do sistema, depois da estocagem, é chamada de Recuperação. É onde são recolhidos todo o minério estocado no pátios e dali seguem através de um complexo sistema de esteira, até os terminais portuários para carregamento dos navios. O terminal dispõe de 7 recuperadoras com capacidade de 8.000t/h, além de 6 empilhadeiras – recuperadoras com capacidade nominal de 8.000t/h.
Os números do Pier 1 igualmente impressionam. Conseguem atracar navios de até 420.000 TPB, graças a uma profundidade de 24 metros. Possui um air draft (altura) de 22,40m e seu berço principal tem 490m. Opera basicamente com minério de ferro e sua taxa de carregamento, é de 16.000t/h. Já o Pier III Norte e Sul operam com navios de até 320.000 TPB (Berço Sul) e 180.000 TPB (Berço Norte). Tem uma altura de 22m, 654m de expansão e uma taxa de embarque de 3×8.000t/h. Além do minério de ferro, o Pier III opera, também, com manganês.
Nos terminais da empresa a cereja do bolo está no Pier IV Norte e Sul. É nele que atracam os navios tipo Valemax, classificados entre os maiores navios graneleiro do mundo. Os mesmos têm capacidade para receber navios de até 420.000 TPB. Sua profundidade mínima é de 24 metros e a extensão dos Berços é de 1020 metros. Só a ponte de acesso aos navios tem 1.600 metros. Outro dado impressionante é sua capacidade de embarque. São quatro carregadores de navios que garantem embarques de 16.000t/h. “Hoje, graças ao gigantismo dos navios, nosso maior cliente é a China, cujos portos permitem a atracação dos Valemax”, explica Tadashi.
O TMPM terminal possui os mais modernos simulares para operações de carregamentos de navios do mundo. Graças a tecnologia 3D, os operadores são qualificados antes mesmo de iniciarem os trabalhos na área. Os resultados desses investimentos de ponta são ganhos no processo, correção de falhas operacionais e prevenção de acidentes. A Vale tem ainda um contrato com a Fundação Centro de Tecnologia Hidráulica da USP onde foi montado um modelo em escala reduzida do Terminal de Ponta da Madeira. Essa parceria, iniciada em 1977, permite estudos de manobras e os sistemas de amarração cujo resultados representam maior produtividade e mais segurança das operações. Essa parceria Vale/USP atende também na formação dos Práticos que operam no TMPM, com ganhos significativos na qualidade desses profissionais.
Por fim, Marcos Tadashi lembrou da responsabilidade porto/comunidade, considerando que em torno da área principal, orbitam centenas de empresas que geram emprego e renda para milhares de trabalhadores. “Nosso foco também é priorizar o trabalho da mulher na empresa. Hoje a Vale tem um percentual significativo do sexo feminino em seu quadro e pretende aumentar ainda mais”. Falou ainda dos investimentos futuros, como a informatização do sistema, uso de locomotivas elétricas – já em fase de testes dentro da área da empresa – e do ganho de qualidade que foi implantada na mina de Carajás graças a informatização dos super caminhões, hoje totalmente operados remotamente através de computadores.
Texto: Carlos Andrade, da Redação
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