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Entrevista, Mário Flexa Ribeiro

MÁRIO FLEXA RIBEIRO
Sócio proprietário da Agência de Navegação Pedreiras Transportes
Entrevista concedida ao jornalista Carlos Andrade e publicada no Jornal da Soamar, edição outubro de 1991

“Em julho, num só dia, a Pedreiras carregou 9.200 toneladas de alumínio”

 Ele foi diretor do Sioge – Serviço de Imprensa e Obras Gráficas do Maranhão -, Diretor de Estatística no Governo de Eugênio Barros, Delegado do IBGE, amigo pessoal de Vitorino Freire e Deputado Estadual por 12 anos pelo PST e PDS. Apesar disso, o nome Mário Flexa Ribeiro em nada se associa a histórias políticas e muito menos a biografias partidárias. E sim, a Pedreiras Transportes Ltda, uma das maiores, se não a maior, Agência de Navegação do Maranhão, responsável por um fluxo de mais de 20 navios por mês nos portos de Ponta da Madeira, Alumar e Itaqui. Ele ajudou a construir portos, terminais, estradas de ferro, fábrica de cimento e ate cervejaria. Paraense, nasceu na cidade de Faro no dia 30 de julho de 1921. Aos 23 anos fundara sua primeira empresa. No Maranhão, chegou a exatos 44 anos e aqui ajudou, com sua tenacidade empresarial, a construir cada empreendimento, cada chaminé e cada metro da Ferrovia de Carajás, um, dos muitos projetos responsáveis pelo desenvolvimento do nosso Estado. Nessa entrevista, publicada na Edição Nº 5 do Jornal da Soamar, em outubro de 1991, ele conta ao jornalista Carlos Andrade um pouco da sua história que, em muitos momentos, se confunde com a própria história do Maranhão.

JORNAL DA SOAMAR – Quando o Senhor ganhou o seu primeiro tostão?
MÁRIO FLEXA – – Meu pai era dono de navio e com ele faturei meu primeiro dinheirinho. Porém, com apenas 21 anos, fundei minha primeira empresa, a C. JAUPRET DE SIQUEIRA & CIA. LTDA. Depois criei a E. Ribeiro e por último, já no Maranhão, a Pedreiras Transportes Ltda.

JS – Como foi essa transferência para o Maranhão?
MF – Apesar de nunca ter sido empregado de empresa, cedo fiz parte do funcionalismo público. Assim, ingressei no IBGE e por força disso, viajei para o Amapá, Rio Branco e por último São Luís. Chegue aqui há 44 anos, como Delegado Regional do IBGE e fiz, o Censo de 1950.

JS – Por que Pedreiras, se o seu ramo é navegação?
MF – Na verdade, quando a firma nasceu sequer existia o porto do Itaqui. Estava ainda em processo de construção e eu tinha, naquela época, uma Pedreira no município de Axixá. Daí o nome. Acrescentei a palavra Transportes, porque eu tinha caminhões, lanchas e até um batelão (espécie de draga ou barcaça para transporte de cargas pesadas). Todo esse equipamento fora utilizado no transporte – e fornecimento – de pedras da Região do Munin para as obras do porto do Itaqui. E como o nome pegou, mesmo mudando de ramo, resolvi mantê-lo. Hoje, felizmente, a Pedreiras Transporte é conhecida em quase todos os países do mundo.

JS – Como o Senhor se sente tendo sido um pioneiro em termos de grandes projetos implantados no Maranhão?
MF – Assim como o porto do Itaqui, eu participei, com o meu trabalho, em quase todos os grandes projetos aqui implantados, como Cervamar, Química Norte, Eletronorte, Vale do Rio Doce (Ponta da Madeira e Ferrovia de Carajás) e Alumar. Todos eles tiveram seus materiais transportados e fornecidos por Mário Flexa. No caso da Ferrovia de Carajás, até mesmo as locomotivas foram trazidas de além mar por agenciamento nosso. A fábrica de cimento de Codó, teve todos os seus equipamentos transportados por nós.

JS –  O Sr. Então, em tese, construiu o Maranhão?
MF – Eu me sinto integrado a este Estado por ter ajudado a construir tudo por aqui. Hoje aparece por aí uma porção de holandeses se arvorando de benfeitores do Maranhão, porém, sequer meteram um prego em uma barra de sabão em benefício dele.

JS – Em que mais o Senhor foi pioneiro?
MF – O primeiro navio que atracou no Porto do Itaqui, assim como o primeiro carregamento foi eu quem fiz, isso há mais de 20 anos.

JS – O Senhor chegou a administrar o porto de Itaqui?
MF – Por dois anos, atendendo a um convite feito pelo comandante Washington Viégas, então diretor do DNPV – Departamento Nacional de Portos e Navegáveis.

JS – O gigantismo desses projetos não causaram descrenças antes de se tornarem realidade?
MF – Certamente. Muita gente dizia que o projeto Alumar, por exemplo, seria coisa para 200 anos. Eu, no entanto, sempre acreditei. E hoje, graças a Deus, está tudo aí e, para felicidade nossa, estou integrado a todos eles.

JS –  Desses todos que o Senhor citou, qual foi o mais difícil sob o aspecto da implantação?
MF – O Porto de Itaqui. Agora ninguém pense que ele fora construído por pura sorte nossa. O Itaqui se impôs por suas próprias características visto ser um dos mais profundos do mundo e oferecer excelente garantia de navegabilidade para os seus usuários.

JS – É essa sua afinidade de construtor que não o afasta do Itaqui?
MF – Eu sou o único agente do Maranhão que tem instalações portuárias. Nenhum outro possui, sequer, uma cadeira para sentar na área do Itaqui. Nós temos prédios, armazéns, oficinas, pátios de estocagem…

JS – E os outros? O que têm?
MF – Com algumas exceções, apenas uma disposição extraordinária para fazer fofocas.

JS – Mas o presidente do Syngamar, Senhor Ernest Pfluger, fala de uma unidade entre as Agências…
MF – O Ernest é meu amigo, mas isso de fato não existe. Daquele tempo, só tem o próprio Ernest, eu e o Salim Duailibe. O resto, como disse, não tem estrutura alguma e só servem, repito, para fofocar e fazer intrigas.

JS – Mas o mercado foi crescendo, novas Agências chegando…
MF – Sim mas nenhuma dessas novas estão instaladas no porto. Ora, se eu trabalho com navios, como poderia me estabelecer fora do local onde eles atracam? Como vou descarregar um navio por telefone?

JS – Essa sua disposição explica o recorde da Pedreiras Transporte no mês de julho?
MF – Certamente. Com apenas dois ternos de estiva, a nossa empresa bateu o recorde dos recordes em carregamento de alumínio, com a marca de 9.200 (nove mil e duzentas) toneladas num único dia. Esse número, acredite, é fantástico, porque em Roterdã, na Holanda, por exemplo, que é um dos portos mais movimentados do mundo, a marca alcançada por eles não passa de 5 mil toneladas.

JS – Essa potencialidade de exportação dos portos maranhenses por si só não explica o surgimento de novas Agências de Navegação?
MF – Pode ser. Porém, justifica os insucessos desses “estrangeiros” em seus estado de origem e correm para o nosso Estado em busca de hospedagem. Nós, do Maranhão, não vamos para lá.

“Eu sou o único agente de navegação do Maranhão que tem instalações portuárias. Nenhum outro possui, sequer, uma cadeira para sentar na área do Itaqui. Nós temos prédios, armazéns, oficinas, pátios de estocagem…”

JS – Quem de fato trabalha das 14empresas filiadas hoje ao Syngamar – Sindicato das Agências de Navegação Marítima do Estado do Maranhão?
MF – Pedreiras, Arens Langen, Harms, Salim Duailibe e Wilson Sons.

JS – Existe um porto mais difícil que outro para ser atendido?
MF – Em tese são todos iguais, porém, por ser totalmente mecanizado, o de Ponta da Madeira tem sua operação um pouco mais complexa em relação ao Itaqui e/ou Alumar, por exemplo. No porto da Alumar, também parcialmente mecanizado, a Pedreiras mantém um gerente durante 24 horas/dia.

JS – Com quase 30 anos de porto, muitos foram os titulares da Capitania. Como o Senhor avalia a performance do CMG Amilcar Rodrigues da Silva, atual Capitão dos Portos do Maranhão?

MF – Muito boa. Aliás, a Capitania tem a missão maior de determinar normas e exigir, daqueles que operam com atividades marítimas, o cumprimento destas. O Comandante Amilcar tem sido rigoroso como deve ser, e com isso marca de forma competente, sua passagem pela nossa Capitania.

JS – A classe estivadora vive a expectativa de uma privatização portuária onde seu mercado de trabalho seria reduzido. Fale a respeito…
MF – Eu me dou muito bem com a estiva. E digo mais: passando ou não essa Lei, eles continuarão a trabalhar conosco. No caso do Maranhão, posso lhe garantir, nada vai mudar.

JS – Como o Sr. se tornou soamarino?
MF – Fui levado para a SOAMAR pelas mãos do amigo Gustavo Bentemuller, então Capitão dos Portos do Maranhão. Isso aconteceu em função de um estreito relacionamento com a Capitania, sempre prestigiando as promoções por ela levadas a efeito. Aliás sempre nos demos muito bem com as forças armadas.

JS – A sua empresa é hoje aquilo que fora imaginado há 30 anos?
MF – Muito mais. Jamais imaginei, quando fundei a Pedreiras, chegar onde estamos hoje. E a receita para isso é uma só: trabalho. Cansei de passar noites inteiras no Itaqui a fim de dar cumprimento a uma faina, uma responsabilidade. O porto não para e isso exige da gente 24 horas permanentes de atividades.

JS – Quem, além do Senhor, manda na Pedreiras?
MF – São meus filhos. No Itaqui estão Roberto e Rui Flexa e no Centro Administrativo da empresa, na Rua Celso Magalhães, fica a Regina Flexa. Já o Mário Filho, o mais novo deles, acaba de concluir um curso de aperfeiçoamento empresarial nos Estados Unidos e, da mesma forma, trabalha junto com os irmãos na empresa.

JS – Faça uma relação da capacidade portuária do Maranhão em relação aos demais estados do país?
MF – O nosso Estado está muito bem de porto, mesmo sem a tão esperada duplicação do Itaqui. O porto de Santos, por exemplo, carrega 2.000 toneladas em 24 horas. Nós carregamos 9.200 no mesmo espaço de tempo. No caso específico da Pedreiras, no período de 1988 a setembro de 1991, ou seja, em 36 meses de operação portuária, atendemos a 672 navios e movimentamos mais de 19 milhões de toneladas de cargas. Essa marca, credencia a Pedreiras Transportes do Maranhão como uma das maiores empresas do ramo no país.