Presidente da Soamar-Maranhão e da Soamar Brasil
Entrevista concedida ao jornalista Carlos Andrade e Publicada no Jornal da Soamar, edição junho de 1991
“Nosso objetivo maior é só AMAR esse povo maravilhoso do “nosso” Maranhão”
Curiosamente, o hoje presidente da Sociedade dos Amigos da Marinha do Estado do Maranhão começou sua vida pelo ar. Descendente de uma família de oito irmãos, é o segundo filho e trás no nome uma verdadeira legenda política da terra natal, Florianópolis, onde nasceu ha 66 anos no dia 10 de setembro. Seu nome: Hercílio Luz Simões, neto do patriarca da família, que governou o Estado de Santa Catarina por 12 anos e principal responsável pela tenacidade comum à família e, em particular, a determinação do nosso entrevistado. Catarinense de nascimento, ainda menino viajou para o Rio de Janeiro e de lá para São Joao Del Rey (MG) onde praticamente iniciou os estudos. De volta ao Rio, matriculou-se na Escola Técnica Profissional Joao Alfredo onde aprendeu a gostar das matérias técnicas fundamentais na decisão de optar pela engenharia, curso esse iniciado no Rio e concluído em São Paulo na Escola de São Jose dos Campos, hoje ITA. Se a engenharia lhe deu diploma, a aviação The deu felicidade. Ainda menino, já empregado do Sindicato Condor Lufthansa só não viajou para a Alemanha por que a guerra não permitiu utilizar-se de uma bolsa conquistada. Se a Alemanha “furou”, menos de 12 meses depois uma nova bolsa de estudo o levou para os Estados Unidos, um deslumbramento para quem sequer havia completado 17 anos de vida. E assim, de curso em curso, de bolsa em bolsa, Hercílio Luz Simões fez carreira na aviação, passando por mecânico, piloto e comandante. Com mais de 30 mil horas de voo, aposentou-se segundo ele, cedo, e partiu para a iniciativa privada através de sua empresa de engenharia. Amigo de Armando Sander, então presidente da Varig, este o convidou para vir a São Luís construir um Hotel. Nunca mais voltou. Mas isso e melhor ele mesmo contar…
JORNAL SOAMAR – Vamos começar. Fale da sua primeira paixão profissional.
Hercílio Luz – Apesar de ser formado engenheiro mecânico pela Escola Federal de São Jose dos dos Campos (SP), foi a aviação quem inicialmente me fascinou se transformando na única e verdadeira profissão. Foi ali, entre motores e planos de voo que o garoto Hercílio se realizou, visto ser de fato o que eu realmente gostava de fazer.
JS – Em quantas companhias aéreas você trabalhou?
Hercílio – Comecei ainda menino na Lufthansa, que naquela época se chamava Sindicato Condor Lufthansa, depois na Aerovias Brasil, mais tarde incorporada pela Real e esta, em seguida, pela Varig. A Lufthansa, também denominada Cruzeiro do Sul foi a última incorporação da Varig onde, por força das muitas horas de voo que tive, acabei me aposentando por um período de trabalho relativamente curto.
JS – O Senhor chegou a exercer algum cargo de comando dentro da Varig?
Hercílio – Logo ao sair da Cruzeiro do Sul ingressei na Aerovias Brasil, já na condição de tripulante e ali cheguei a comandante. Nessa condição, voei bastante por esse Brasil afora a ponto, de permitir a aposentadoria precoce a qual me referi antes.
JS – Explique melhor essa questão da aposentadoria precoce…
Hercílio – É o seguinte: a cada mil horas de voo, o piloto contava um ano serviço. Isso no entanto só valia para as primeiras dez mil. A partir daí o tempo corria normalmente ano após ano. Por causa disso, afirmei ter me aposentado relativamente cedo.
JS – Quantas horas de voo você o Senhor contabilizou na carreira?
Hercílio – Mais de trinta mil e tudo começou com o Sky Master, o famoso DC-4.
JS – Mas depois de aposentado o Senhor continuou trabalhando na Varig?
Hercílio – Assim que encerrei minha jornada como piloto, a empresa nos convocou com nossa empresa de engenharia para atender projetos construção de hotéis. Trata-se de uma nova investida empresarial da Varig através da rede de Tropicais Hotéis, uma empresa do grupo.
JS – Foi a partir dessa época que a cidade de São Luís começou a fazer parte da sua vida?
Hercílio – A nível de transferência sim, porem eu já conhecia bem São Luís de outros tempos. Por volta de 1943, 44 e 45, eu ainda era mecânico de bordo e já realizava essa rota a bordo de um avião alemão chamado “Juncker”, com três motores e com capacidade para 16 passageiros. Lembro bem que nesse tempo, um dos meus um dos meus comandantes era justamente o Arus Siranca, um dos aviadores com mais horas de voo do mundo.
JS – Voltamos ao hotel…
Hercílio – A decisão de vir para São Luís foi em função desse conhecimento prévio, visto haver ainda as opções de Guarapari ou Recife onde igualmente se pretendia construir hotéis.
JS – Em qual ano aconteceu exatamente essa sua “adesão” ao Maranhão?
Hercílio – 0 convite da Tropicals Hotel aconteceu por volta de 1973 e o período de implantação do projeto era de 22 meses, tempo que imaginara, seria minha permanência nesta cidade. O projeto, no entanto, foi sendo atropelado por inúmeras dificuldades apesar da empresa ter adquirido uma área muito grande na Ponta D’areia, a ponto de ser totalmente arquivado.
JS – Qual a principal dificuldade impeditiva da construção do hotel?
Hercílio – Falta de estrutura básica de saneamento na região, A Varig, por ser uma empresa de aviação, sempre preservou sua imagem diante da opinião pública, e, por essa razão, a falta de uma rede confiável de esgoto, nos obrigaria a cair no lugar comum de jogá-lo diretamente nas praias, uma atitude altamente poluidora. Por isso a Varig achou por bem não queimar sua imagem e optou por interromper, de forma definitiva, o projeto.
“Nossa experiência como presidente surgiu por vacância do cargo pelo Dr. Elir de Jesus Gomes, convocado que foi para ser o Secretário de Esporte e Lazer no governo de João Castelo”
JS – Sem obra, sem contrato de trabalho, a decisão óbvia seria voltar para o seu estado de origem. Foi isso?
Hercílio – Essa foi a intenção da empresa. Porém já me sentia maranhense, optei por me desligar da empresa e , com minha família, fincar ferros aqui no Maranhão.
JS – Quando o Senhor viu o mar pela primeira vez?
Hercílio – Desde que me entendo por gente a visão do mar sempre esteve presente em mim. Afinal, nasci na ilha de Florianópolis, igualmente bem servida de oceanos com São Luís.
JS – Esse amor do amar o tornou um esporte náutico, Conte um pouco dessa história…
Hercílio – Em algum momento da minha vida, quando morava no Rio de Janeiro, fui campeão de natação, estilo clássico. Depois, cansado de dar braçadas, comprei um barco de nome “Cutter” e com ele iniciei uma etapa de competições e a navegar pelo litoral carioca. Eu saía por exemplo, da Praia de Ramos, onde guardava o meu barco, e ia direto para Angra dos Reis. Região que aprendi a admirar ainda em sua forma nativa, natural. A Angra de hoje, repleta de socialites já não me encanta mais.
JS – O Senhor foi um aviador de sucesso, voou mais de trinta mil horas e acabou Amigo da Marinha. Explique essa contradição?
Hercílio – Durante muito tempo meus amigos de aviação me cobraram esse meu amor pela Marinha e pelas coisas do mar, sendo um homem do ar. Na verdade, minha indicação como Amigo da Marinha partiu do amigo e comandante Luiz Fernando de Freitas que, chegando em São Luís, aqui nos encontrou e por força de uma velha amizade, iniciou um trabalho dos mais elogiáveis a frente da Capitania. Foi ele, na condição de Capitão dos Portos, quem nos indicou e me fez amigo da Marinha.
JS – De Amigo da Marinha a presidente da Soamar. Explique a “velocidade” dessa trajetória?
Hercílio – Não foi assim na velocidade de aviador como você sugere. Isso ainda demorou algum tempo, Nossa experiência como presidente surgiu por vacância do cargo pelo Dr. Elir de Jesus Gomes, convocado que foi para ser o Secretário de Esporte e Lazer no governo de João Castelo. Nessa condição de “estepe” fiquei um ano. Sendo reeleito mais duas vezes no tal de seis a frente da Soamar do Maranhão.
JS – E quanto a Soamar Brasil?
Hercílio – Nesse meio tempo, onde exerci vários mandatos da Soamar do Maranhão, fui, durante dois anos, vice-presidente da Soamar Brasil e mais tarde assumir o cargo de presidente – também por dois anos – da entidade máxima soamarina. Nessa condição visitei o país quase todo levando a mensagem de ser Amigo da Marinha e a sua importância de uma entidade como a nossa para a sociedade.
JS – O Maranhão, porém, continuava no coração?
Hercílio – Em todas as minhas palestras o principal assunto era o Maranhão, não me contendo em relatar suas potencialidades, sua gente e seu clima. Essa postura foi a mesma em quase todo o pais, exceção de Belém, cuja Somara não estava em evidencia.
JS – A Soamar Brasil tem voz no Ministério da Marinha?
Hercílio – Seja no Ministério da Marinha, seja no da Aeronáutica, jamais estivemos mais de 10 minutos em qualquer sala de espera para falar com essas autoridades. Essa espera auto- demonstração de prestigio e um retrato fiel da SOAMAR diante da Marinha e, ao mesmo tempo, a dimensiona a nossa importância a nível nacional e estadual.
JS – Qual a importância de uma entidade como a Soamar na sociedade?
Hercílio – Muitas são as formas de interligação entre a sociedade e a Soamar. No caso de São Luís, sendo uma ilha, não faltam oportunidades para que alguém se preste a qualquer tipo de serviço e/ou colaboração em benefício da Marinha. Em troca, a essas ações sociais relevantes, a instituição concede essa honraria da maior importância que é o diploma e medalha de Amigo. Essa honraria, quase sempre, se dá através das Soamares, com abrangência em todos os setores da sociedade, como cultura, esporte, política e jornalismo.
JS – Tipo preservação ambiental, por exemplo…
Hercílio – Você não imagina como é importante a preservação dos nossos manguezais, e como a Marinha tem se preocupado com esse problema. Ao tirar a madeira de forma predatória dos nossos manguezais, o homem simplesmente acaba com os viveiros naturais de camarões e de caranguejos. A propósito, muita gente imagina ser o caranguejo um bicho sujo, quando na verdade ele não e necrófilo (animal que se alimenta de comida estragada). Toda sua base alimentar e feita de folhas e matérias orgânicas de origem vegetal. Portanto, agir de forma predatória acaba com tudo isso deixando atrás de si um rastro de poluição e extinção dos animais marinhos cujo mangue e seu habitat natural.
JS – O que mais?
Hercílio – Qualquer que seja a participação da Marinha na sociedade, haverá sempre um Amigo da Marinha. A Soamar, no seu papel de SÓ AMAR a sociedade e o mar, busca, junto a entidade que a criou, prestar o melhor serviço. Seja de divulgação dos grandes eventos, seja na organização deles.
JS – Em que esta sua administração é diferente das outras?
Hercílio – Como das outras vezes, esta esta e também uma exigência dos amigos. A Soamar teve na verdade uma fase negra em sua administração onde foi jogada no ostracismo num estado de retrocesso nunca antes experimentado. Essa triste pagina só não foi pior pela intervenção do Conselho Fiscal que pôs fim a péssima administração e entregou a Soamar nas mãos do Dr. Mario Flexa que realizou um excelente trabalho apesar do tempo escasso. Como Mario Flexa, muitas são as pessoas que ajudaram a soerguer a Soamar. Entre elas podemos citar o ex-governador Cafeteira, o ex-superintendente de Porto da CVRD, Dr. Pacheco, Dr. Aníbal Pinheiro, Construtora IBEC, Dr. Romildo, Dr. Oswaldo Rocha, Dr. Rufino, Dr. Raul Guterres e tantos e tantos outros companheiros nossos que, como a gente, tem o propósito único de SO AMAR este povo.