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Entrevista, Fernando Machado Castro

FERNANDO MACHADO CASTRO
Gerente da Agência de Navegação Arens Langen
Entrevista concedida ao jornalista Carlos Andrade e publicada no Jornal da Soamar, edição agosto de 1992

O atendimento de um único navio custa, em média, 50 mil dólares

Filho de Espanhóis, Fernando José Machado Castro trás no sangue o estigme dos grande navegadores e heróis de batalhas navais com seus imponentes galeões e suas muitas velas ao vento. Apesar disso, é um homem pacato e, talvez por isso, queria estudar medicina. Foi pra Belém com esse objetivo. Porém, não o realizou. Uma súbita doença do pai trouxe de volta a São Luís, alterando assim sua vocação profissional em direção as leis e aos Tribunais: se formou advogado. Começou sua vida profissional no Banco da Amazônia como escriturário e, depois do diploma, assumiu o Departamento Jurídico, e logo chegou a gerente geral, cargo onde se aposentou. Como os espanhóis, sequer olhou para o pijama e já partia em direção a novos mundos. Assim, a convite da Arens Langen, vestiu a camisa de Agente de Navegação e desde então não fala em outra coisa, senão em navios, minério-de-ferro, portos, armadores e guias de exportação. Nessa entrevista – concedida ao jornalista Carlos Andrade e publicada na edição de  agosto de 1992, no Jornal da Soamar -, vamos conhecer um pouco da vida desse sagitariano de gestos simples mas de decisões precisas e acima de tudo, competentes.

JORNAL DA SOAMAR – É advogado mas deveria ser médico. Explique isso?
FERNANDO CASTRO – Quando retornei do Rio, em 1954, fui logo embarcando para Belém onde deveria prestar o vestibular para Medicina. No entanto, meu pai adoeceu e tiver de retornar a São Luís e isso aconteceu justamente quando as inscrições para a Faculdade de Direito se abriram. Por isso sou advogado.

JS – Mas foi O Banco da Amazônia seu principal emprego. 0 Senhor começou como advogado?
FC – Não. Em 1961, quando comecei no BASA, minha função era escriturária. Ali fiz carreira e ao me formar, assumi o Departamento Jurídico da agencia São Luís e cheguei até a gerência geral onde me aposentei.

JS – Mas o Sr. já foi até Secretário de Estado. Em que Governo foi isso?
FC – Fui convidado pelo colega de banco João Castelo e iniciei minhas atividades na vida pública quando como Procurador Geral da Justiça. Depois fui Secretário do Trabalho e encerrei aquele período de governo como titular da Secretaria do Interior do Estado do Maranhão.

JS – Como um gerente de banco aposentado trocou o pijama por mares agitados e navios gigantescos?
FC – Tudo começou em 1985, quando fui convidado pelo Diretor Comercial da Arens Langen, Rudy Altman, para organizar e registrar uma empresa que se instalaria aqui em São Luís. Tal investimento foi atraído pela promissora perspectiva de mercado com o Projeto Grande Carajás, cujo Terminal de Ponta da Madeira estava prestes a ser concluído.

JS – O primeiro contato foi então jurídico?
FC – Exatamente e nem poderia ser diferente. Nessa questão de mar eu sequer sabia – como não sei até hoje – nadar.

JS – Mas sabia o que era um porto?
FC – Apenas de olhar e achar bonito. Na verdade, a realidade interna e a complexidade dos elementos que o compõem, somente vim aprender depois de integrado a atividade de Agente de Navegação pela Arens Langen.

JS – Firma legalizada, trabalho concluído. O advogado sai de cena mas o Fernando Castro permanece. Porque?
FC – Quando da fase de legalização da empresa, o Rudy Altman, por ser casado no Rio de Janeiro com uma parente de uns amigos meus do Banco, pediu a eles um nome para administrar a empresa. No caso, a Arens Langen. Aí o José Mário apresentou meu nome e falou também da minha disponibilidade, pois estávamos saindo do Banco da Amazônia por força da minha aposentadoria.

JS – Foi muito difícil passar de gerente de banco para Agente de Navegação?
FC – No início não foi nada fácil, e sim um reaprendizado pois a experiência bancária não tinha nada a ver com esse novo tipo de atividade.

JS – O Basa, como instituição da Amazônia, não possuía nenhum programa de apoio a navegação fluvial, por exemplo?
FC – Certamente que sim, porem quase todos voltados para aquela região. Nos, como agência São Luís, pouco se tinha contato com esse tipo de atividade, e quando isso acontecia, era mais destinado para projetos voltados para a atividade pesqueira.

JS – Mas na sua carteira de clientes havia membros do setor de navegação?
FC – Poucos, entre eles o meu amigo Mário Flexa, um dos pioneiros nesse tipo de atividade e cliente em potencial do Banco. Graças a ele, em conversas informais, consegui formatizar um quadro superficial do que seria um Agente de Navegação, porém muito distante da realidade.

.JS – Já dá então para dizer então o que é um agente de navegação…
FC – Na verdade não é apenas despachar navios o pagar fornecedores. A missão de um Agente de Navegação desde o porto de origem até o momento em que ele deixará o porto onde se processará a operação de embarque e/ou desembarque. Nesse meio termo são dezenas de atividades outras envolvendo fisco, máquinas, homens e, principalmente, telecomunicações. A viagem de um navio exige um completo monitoramento através de telex, rádio, fax e tudo mais que possa instrumentalizar a operação em todos os sentidos e em sua complexidade.

JS – O Senhor hoje já se considera um Agente de Navegação ou ainda é um gerente de banco aposentado?
FC – Desde o primeiro dia quando vesti a camisa da Arens Langen já estava Agente. Ainda divido um pouco essa atividade com os trabalhos de advocacia. Mas o meu dia-a-dia mesmo e como homem de Arens Langen.

“No terminal administrado pela Codomar nós pagamos – mesmo sem usar – estiva, consertadores de sacos, conferentes e outros tipos de serviços nunca realizados. Imagine um sujeito costurando sacos de manganês ou de ferro gusa”

JS –  Qual a fase mais difícil de uma operação de agenciamento?
FC – É aquela exercida pela matriz, com relação a conquista do cliente e formação dos contratos. A nos, como filial, compete apenas a parte operacional desse processo. Não é fácil evidentemente, pois dela depende o sucesso do negócio. Mas apenas para dimensionar entre uma e outra, eu diria que aquela primeira, pelo próprio nível do mercado, deve ser a mais complexa.

JS – Como Agente de Navegação o Senhor movimenta mais dinheiro que na sua época de gerente de banco?
FC – Fica difícil precisar porque nossa moeda já perdeu muitos zeros tornando a comparação complicada. Mas posso dizer que a frente de uma agência de classe especial, nós financiávamos toda indústria de base, principalmente a de óleo de babaçu, e isso exigia muitos recursos. No entanto, como Agente de Navegação, operando com moeda forte, a quantidade de dinheiro não fica atrás. Como exemplo, posso dizer que uma viagem de um navio, em média, nunca é inferior a 50 mil dólares, ou 450 milhões de cruzeiros. Levando em consideração que nossa Agência atende entre 10 e 14 navios por mês, dá para imaginar quanto dinheiro gira nesse tipo de atividade a cada trinta dias.

JS – O Senhor pode nominar algumas das despesas decorrentes de um só atendimento?
FC – Só de rebocadores paga-se algo em torno de trinta mil dólares a cada operação. E, seguida vem praticagem, lanchas, taxa de farol, tributos, e tantas outras despesas que são religiosamente recolhidas aos cofres da União, do Estado e até do município.

JS – Competividade entre as Agências, fale dessa disputa de mercado…
FC – Como disse antes, essa fase é mais acirrada a nível de matriz. Aqui no Maranhão sequer dá para sentir as farpas dessa disputa pelo marcado. Além disso, a Arens Langen tem 70 anos de tradição no mercado de minérios, iniciada ainda no Porto de Vitória. Dito isso, fica fácil entender o parque de termos os melhores clientes do mundo, como é o caso dos graneleiro da Bergesen. Casos do Berge Sthal, Bergeland e Berge Adria. Além dos noruegueses, também trabalhamos com japoneses, italianos, coreanos e alemães.

JS – Quais as empresas que trabalham com a Arens Lang nesses outros países?
FC – Tem a Rostophlander, que opera com os Berges e representa os compradores alemães. A Sidermar que representa os navios italianos. No mercado japonês nossa empresa possui 70% dos clientes e quase 100% do mercado coreano. Todos os nossos clientes possuem uma parceria de mais de duas décadas, o que reforça a operacionalidade funcional entre o Agente e o contratante.

JS – Isso faz de Ponta da Madeira um íte, vital para sua empresa, ou não?
FC – Em se tratando do Maranhão e do projeto Grande Carajás, sim. PDM é um porto de altíssima eficiência e isso é mérito da Vale do Rio Doce, pois possui características especialíssima de calado e localização e ainda oferece um produto de qualidade bem superior aos demais terminais nacionais.

JS – Esse é um conceito de Fernando Castro ou de Arens Langen?
FC – Dos dois. Minha posição pessoal, se mostra correta na medida que a matriz, reconhecidamente com autoridade para isso por conhecer de perto os principais portos do mundo, também concorda com nosso ponto de vista.

JS – Existe um critério por parte da matriz, a ser estabelecido na administração de suas filiais, como por exemplo, um patamar de produtividade a ser alcançado a cada período?
FC – Não. A nos, como, Agencia, cabe executar as tarefas e fazer isso da melhor forma possível. Nossa matriz não admite erros e muito menos meio-termo. Se o cliente existe deve ser bem atendido. Tanto que o lema da empresa é justamente esse. “Quem presta serviço, deve fazê-lo sempre da melhor qualidade, sob pena de perder o cliente”. Nosso diretor presidente, João Langen, costuma usar uma frase que exemplifica bem o pensamento da empresa. “Agenciamento não se toma, se perde”.

JS – Entre as filiais da Arens Langen qual a posição da administrada pelo Senhor, aqui em São Luís?
FC – A segunda do ranking. A primeira, como disse antes, não poderia deixar de ser a de Vitória, onde tudo começou. No Maranhão, nossa filial hoje está totalmente informatizada dispondo de quatro terminais ligados “all time” com a matriz e abastecendo todos os setores da empresa com qualquer tipo de informação, principalmente aquelas voltadas para o atendimento dos nossos clientes.

JS – Qual a principal diferença entre a Agencia de Vitoria e a nossa?
FC – São muitas, porem a principal delas é o volume de atividades mês. La o principal porto de exportação possui três berços e tem ainda um porto de carga geral e ouro na Ponta do Ubu. Com isso, entre carga geral e minério, são atendidos cerca de 60 navios mês, só por Arens Langen.

JS – Privatização portuária. Vamos falar disso…
FC –  Minha posição é a da modernidade. E vejo muitas conquistas interessantes no Projeto do Governo, principalmente no aspecto da moralização dos custos, considerados verdadeiros exageros por parte de quem os paga. Caso das Agências e dos empresários do setor.

JS – De exagero? Explique melhor essa parte…
FC – Às vezes nos carregamos ferro gusa ou mesmo manganês no Porto do Itaqui. Quando isso acontece, mesmo considerando cargas praticamente iguais, fica bem claro o aumento dos custos, em comparação aos cobrados nos portos privados, por exemplo.

JS – Mas deve existir explicação para isso…
FC – Existe sim. No terminal administrado pela Codomar nós pagamos – mesmo sem usar – estiva, consertadores de sacos, conferentes e outros tipos de serviços nunca realizados. Imagine um sujeito costurando sacos de manganês ou de ferro gusa.

JS – Mas o conferente confere…
FC – Confere sim, pois ele está sempre lá com um papel na mão e acredito deve saber o que está fazendo. Só que não serve para nada, ou quase nada porque ninguém mais utiliza esse tipo de medição. Qualquer navio hoje, sabe, com o simples apertar de um botão, quanto tem de carga em cada um dos seus porões. Mas a Lei diz que temos de pagar e pronto.

JS – A nível de sindicalização, como está a classe?
FC – Apesar do Syngamar ter feito muito em prol da categoria, tem faltado apoio por parte dos filiados que sequer comparecem as reuniões. Na verdade, apenas eu, Ernesto Pflueger e Roberto Flexa estamos sempre a frente e ainda assim podemos contabilizar grandes conquistas. Cito, por exemplo, recente acordo com a praticagem, com serviços de lanchas e alguns outros serviços cuja ação do Sindicato, os tornaram menos onerosos para nós, e, por extensão, para os nossos clientes.

JS – E quanto a economia? Dá para falar alguma coisa…
FC – Apesar de tudo ainda é preciso acreditar, embora nossos clientes – e isso é uma característica dos estrangeiros – não aceitam mudanças tão frequentes nas regras do jogo. Infelizmente, no Brasil tem sido assim ultimamente. Mesmo assim, eu acredito se tratar apenas de uma faze difícil e, portanto, superável.

JS – O recente contrato de operação envolvendo a Bergsen com o mercado japonês numa rota fixa São Luís-Japão pelos próximos cinco anos serve de lastro para essa sua esperança recheada de otimismo?
FC – Esse contrato foi assinado entre a Companhia Vale do Rio Doce e a Nippon Steel Shipping e, entre outras coisas, reflete credibilidade no produto e numa empresa brasileira, apesar dela ser uma estatal.

JS – Qual o nível de internacionalização dos clientes da Arens Langen?
FC – Eu diria quase 100%. Esse ano por exemplo, atendemos apenas dois navios nacionais. Um no porto Itaqui e outro no Terminal da Alumar.

JS – E quanto ao mercado de soja. É uma carga que está chegando para ficar?
FC – Nós, enquanto Agente de Navegação, estamos atento a esse novo momento da exportação maranhense. Na medida que o quadro se implantar e as exportações forem acontecendo a Arens Langen estará presente. Não tenha dúvidas. Se veio para ficar, só o tempo dirá…